sábado, 9 de maio de 2009

Faroeste Caboclo

Aos quinze foi mandado pro reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror
Não entendia como a vida funcionava
Descriminação por causa da sua classe e sua cor
Está na capa da revista Gloss deste mês (Maio) a atriz e apresentadora Taís Araujo, e ela diz: “Minha carreira tem função social”. Eu parei, pensei um pouco e continuai a ler: ela será protagonista da próxima novela das oito de Manoel Carlos. Parei de novo, e voltei a pensar e, não é que é verdade? Lembrei também do que vi na capa de um caderno de jornal, acho que mês passado, sobre uma nova animação da Disney, seria sobre uma princesa moderna e tal... A primeira princesa negra da história da Disney. Lembrei então da minha infância, das minhas Barbies, da Eliana, da Xuxa, da Angélica, da Jaque... Todas loiras! Eu sei que parece uma constatação óbvia, mas sabe quando você sente que tem que por para fora tudo o que você esta sentindo?
Não estou dizendo que sou a favor da cota para negros nas universidades, mas eu não consigo ver isso como uma forma de preconceito. Para mim essa é uma tentativa de diminuir o preconceito, e mesmo que não dê certo, com a criação da cota ao menos houve uma maior atenção da população para o fato assustador de não haver negros em instituições de prestígio! Em um país que a maior parte da população é formada por negros, como menos de 1% deles pode chegar às universidades? Eu estudo em um colégio particular excelente, caríssimo, e... Bom, eu em toda minha vida, nesses meus quatorze anos em colégios particulares – de inglês, natação, escola em si, ballet – estudei com apenas dois negros. Para uma pessoa melhorar de vida é importante que faça uma faculdade, para fazer uma faculdade ou ela tem dinheiro e paga uma particular ou ingressa em uma pública, a maioria da população negra no Brasil é pobre, portanto terá de ficar com a segunda opção, porém, por serem pobres, eles estudam em maus colégios, daí não possuem condições de competir com o branco, riquinho, que estudou toda a vida em colégio particular. Sem opções, não fazem faculdade e assim a história se repete. A existência das cotas é uma chance de mudar essa realidade do negro, de mudar o estereotipo de negro-corinthiano-ladrão.
E quer saber de uma coisa? Eu acho que as pessoas apenas reclamam dessas cotas porque, no fundo, elas se sentem injustiçadas. Lógico, há aqueles que realmente vêem elas como um agravante do preconceito, mas esqueçamos um pouco dessa parcela. Pense bem, você aluno branco de um colégio particular, como a sua vaguinha na Pinheiros fica? Poxa, estão abrindo cotas para todo mundo, daqui a pouco toda aquela sua sorte de ter nascido em uma família afortunada vai por bueiro abaixo, pois você não estará concorrendo com pessoas menos afortunadas, estará competindo com seus iguais. Pessoas que tiveram as mesmas chances que você. Isso assusta, sei disso porque faço parte dessa parcela que viu sua vantagem descarada ser roubada debaixo de nosso próprio nariz.
Eu acho que o governo está certo com essas cotas (eu sei que no segundo parágrafo eu disse que não diria que era a favor, mas mudei de idéia), porque, não sei você, mas eu não fiz nada para nascer na família em que nasci. Eu tive sorte. Eu não batalhei para ir para Disney no meu aniversário de quinze anos, ou para fazer intercâmbio, estudar em um colégio reconhecido... Isso não é mérito meu. E, partindo do senso de que tais eventualidades não são mérito de ninguém, o justo não seria sermos todos iguais na hora de prestar o vestibular? As cotas buscam por essa igualdade no meu ver.
A verdade é que o ideal seria que o governo fornecesse educação de qualidade na rede pública, é ridículo que nós paguemos impostos e ainda tenhamos que pagar o pedágio para termos ‘segurança’ ao dirigir, o convênio para termos saúde, a escola para termos educação. Isso tudo deveria ser fornecido pelo governo. Eu pretendo fazer minha parte, mudar, mesmo um pouco, essa realidade. Quero fazer História, trabalhar com professora ensinando os erros do passado para que não sejam cometidos novamente. Quero educar cidadãos e fazer minha parte no mundo. Mas enquanto o mundo não muda, acho que as cotas são a solução.

Um comentário:

anna disse...

Não creio que cotas possam ser vistas como solução, mas sim como um abafão.
Não é por causa da cor da pele de uma pessoa que ela não consegue entrar para a universidade, é por causa do ensino precario que é o ensino público brasileiro.
Lembrando que as cotas para negros são só para os de escola pública - então o problema não é resolver o preconceito
^~

Adorei seu blog,
beijos